Carta a uma escola

A Covid-19 é a doença humana mais estudada atualmente. Todos os dias temos novas informações que são importantes para as condutas dos órgãos públicos e demais instituições. Porém, essas informações, apesar de disponíveis de imediato, demoram muito para surtir política pública (quando surtem), especialmente no Brasil.

Desde o início da pandemia já sabemos que assintomáticos transmitem o vírus, mas nossas políticas públicas não incluem normalmente os testes nestas pessoas. No nosso laboratório, o Laboratório de Diagnósticos Moleculares da UFV, Rio Paranaíba, até o ano de 2021, antes da variante ômicron, a taxa de positivos assintomáticos estava em torno de 20%. No mês de fevereiro, com a ômicron em abundância, essa taxa subiu para cerca de 35%. Sabemos muito bem que esses valores ainda estão subamostrados, justamente por não fazer parte da política pública o teste dos assintomáticos.

Outras informações relevantes para o manejo adequado de áreas de aglomeração como escolas, igrejas, etc, é o período de incubação (período entre a infecção e manifestação dos sintomas) e o período de transmissão. Os estudos recentes sugerem que os sintomas da variante ômicron podem surgir de dois a três dias após a infecção, em média. Já o período de transmissão pode iniciar ainda nas primeiras 24h da infecção e seguir por até 9 dias, independente de haver ou não sintomas. Isso vai contra as últimas determinações de políticas públicas que visam reduzir o tempo de isolamento, mais uma vez demonstrando que o poder público não está sintonizado com o conhecimento científico.

Assim, uma criança que manifestou os sintomas no sábado deve ter sido contaminado entre quarta-feira e quinta-feira, podendo já transmitir o vírus de quinta-feira ou sexta-feira em diante. O fato de os colegas não terem manifestado sintomas não garantem que não houve transmissão. Essa transmissão pode seguir silenciosa até encontrar uma criança mais suscetível que irá manifestar os sintomas. Não apenas isso, pode transmitir para adultos em casa colocando em risco um número muito maior de pessoas.

Por isso, diante do conhecimento atual, a conduta mais adequada e racional é a suspensão das aulas presenciais no mínimo na turma em que a primeira criança foi diagnosticada com Covid-19 (utilizada em diversos países), por pelo menos 10 dias. Uma escola preocupada com a saúde de sua comunidade não poderia agir diferente.

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