Não sou muito partidário de teorias da conspiração, mas acredito em estratégias. Discutindo outro dia sobre as ações do governo atual da presidente Dilma, não pude deixar de fazer algumas observações. Alguns podem considerar absurdas, outros não. Cada um tem direito a ter sua opinião.
Antes de mais nada é preciso relembrar da última campanha eleitoral. Luís Inácio “Lula” da Silva era nosso presidente, que governou o Brasil durante oito anos após oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Conforme o que já se imaginava, Lula foi muito mais assistencialista e, vindo de um partido supostamente marxista, fez um governo de incremento do poder estatal, diferente de seu antecessor supostamente liberal e partidário de um Estado enxuto. Na campanha das eleições de 2010, o discurso da presidente eleita Dilma Rousseff era o de continuidade acima de tudo, em detrimento de qualquer proposta ou plano de governo. Simplesmente não houve isso. Só foi falado de continuidade das ações do atual presidente.
Pois bem, o governo Lula aumentou consideravelmente os gastos públicos, atingindo patamares bastante elevados, de mais de 18% do PIB. Tivemos inúmeros concursos públicos tendo o governo contratado mais de 127 mil novos funcionários, distribuição de renda através de bolsas, abertura de novos campi de universidades federais e um elevado número de bolsas para alunos de instituições privadas.
Ora, o que significa continuidade? Para mim, significa que a então candidata e agora nova presidente seguiria com o modelo de governo de Lula, fazendo contratações, aumentando gastos, investindo no Estado. E o que ela faz logo no início do mandato? Corte de mais de 50 bilhões de Reais. Corte este que atingiu investimentos em infraestrutura e contratações necessárias para a manutenção do que havia sido acordado pelo presidente anterior, entre outras inúmeras consequências. Isso é continuidade? Em suma, a atual presidente Dilma, que dizia ser sucessora de Lula e que daria continuidade ao seu governo, está fazendo o que acusava que Serra faria se eleito! Aparentemente, ela está dando continuidade ao governo de FHC.
Por que será que a excelentíssima presidente Dilma está fazendo isso? Na minha visão, ela está colocando ordem na casa. Não discordo dos cortes (exceto pelo fato de termos ficado na mão perante uma esperança de que teríamos os professores e a infraestrutura para darmos seguimento aos planos de expansão do ensino superior público). Tantos gastos públicos nos últimos anos não poderiam ficar sem uma consequência, e estamos pagando por ela neste momento.
Dilma teria ficado contra Lula? Ora, ela era parte do governo, será que não sabia que estávamos seguindo para um beco sem saída? Se sabia, por que não alertou? Eu vejo o motivo. Faz parte de uma estratégia. Uma estratégia que pelo que consigo observar, vai deixar o PT no poder por pelo menos 20 anos. Uma ditadura sancionada pelo povo.
Explico melhor. Lula foi o governo do povo. Populista, expandiu o poder do Estado, contratou, injetou dinheiro na economia, permitiu que mais pobres pudessem consumir mais (e aí me pergunto sobre o marxismo…). Mas tudo isso tem um custo. Inflação, supervalorização do Real, contas públicas exageradas e com isso mais juros e impostos. Entretanto, é uma forma de governo que atrai a população e elege sucessor (sucessora, no nosso caso). Durante os quatro anos de mandato de Dilma, é possível que tenhamos aperto fiscal, diminuição nos gastos, “congelamento” de salários, diminuição de contratações, tal qual foram os oito anos de FHC, para colocar a casa em dia. Na sequência, Lula se candidata novamente e o povo vê uma luz no fim do túnel: a possibilidade dos bons tempos voltarem. E ele retorna num ciclo, voltando aos gastos públicos elevados, populismo e afrouxamento de contas, seguindo no governo por mais oito anos e com uma facilidade enorme de fazer um sucessor.
Portanto oposição, abra os olhos! A perspectiva só vai mudar se vocês forem inteligentes a ponto de dar um basta na estratégia.
Mas é claro, posso estar apenas levantando uma teoria conspiratória sem sentido.
Aparentemente eu estava errado. Não teve absolutamente nada a ver com uma continuidade de FHC. Sou feliz por ter mudado de opinião em muitos aspectos em relação a este governo. Fico triste por ter sido tão tardio.