Se a melhor forma de aprender é na prática, a Iniciação Científica torna-se o melhor caminho para um estudante entender e aprender a fazer ciência. Mas será que isso realmente funciona assim? Bom, não vou conseguir responder isso agora, mas vou dar o panorama geral da teoria do que é a Iniciação Científica. Podemos discutir isso por aí…
A Iniciação Científica é a forma pela qual um aluno começa seu contato com o meio científico. É como chamamos normalmente os estágios realizados nos laboratórios de pesquisa com a finalidade de desenvolver um projeto durante a graduação em qualquer curso. O projeto é o documento norteador das atividades de pesquisa de um laboratório. É no projeto que constam as informações teóricas necessárias para se compreender o que será feito, bem como os objetivos do trabalho. Também é onde consta a metodologia que será utilizada para alcançar os objetivos. Um laboratório pode ter um ou mais projetos em andamento, de acordo com as necessidades e objetivos maiores dos cientistas. Um aluno de Iniciação Científica pode ter um projeto só para ele, mas também pode ter um plano de trabalho dentro de um projeto maior, muitas vezes financiado por algum órgão como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais.
Com o desenvolvimento de um projeto de Iniciação Científica o aluno começa a tomar contato com as atividades científicas da instituição, a pesquisa acadêmica. É a fase de construção do conhecimento, um dos pilares de uma universidade, por exemplo (ou a finalidade de institutos de pesquisa). São apresentadas ao aluno as metodologias trabalhadas nos laboratórios, as principais técnicas. Aos poucos ele vai se dando conta de que o conteúdo das aulas é nada frente ao que é necessário para entender todos os passos de um projeto. Na teoria, o desenvolvimento de um projeto de pesquisa deve dar ao aluno um vislumbre do que é a ciência e como ela é feita. Pelo menos este é um dos objetivos. Ou deveria ser. É claro que é impossível que um aluno de Iniciação Científica consiga absorver em poucos meses toda a problemática envolvida nos projetos em desenvolvimento em um laboratório, mas é um caminho necessário principalmente para aqueles que optarem por seguir a carreira de cientista (não vou entrar no mérito da discussão de que não existe carreira de cientista no Brasil, isso é outra discussão).
As regras exatas para o momento e os requisitos básicos para este início dependem de vários fatores. Em geral é necessário um orientador que tenha uma estrutura mínima adequada para o desenvolvimento de um projeto (que pode variar de acordo com a área de atuação, claro). Em alguns casos é esperado que o aluno tenha um mínimo de disciplinas cursadas, mas é possível ter alunos de Iniciação Científica sem nenhum conhecimento acadêmico prévio. Órgãos de fomento como os citados anteriormente, entre outros, podem oferecer bolsas para que os alunos dediquem-se à Iniciação Científica. As regras para que um aluno tenha a bolsa são próprios de cada instituição, mas em geral envolvem um processo seletivo. Em geral, são avaliados o currículo do orientador, o projeto e o plano de trabalho do aluno. Em alguns casos o currículo ou histórico do aluno pode ser avaliado. É muito frequente que o orientador abra vagas para que determinados alunos entrem nesta disputa (pode haver uma seleção prévia dentro do laboratório, por exemplo). Desconheço casos em que o orientador não escolha seu bolsista (haver seleções independentes, por exemplo).
O aluno de Iniciação Científica não é um mero estagiário. Ele precisa começar a pensar sobre o problema, sobre seu projeto. Não basta aprender uma técnica e pô-la em prática. É preciso aprender o porquê de usar a técnica. Quais as implicações dos resultados. E isso não se obtém dentro das salas de aula. Para isso é necessário muito estudo, muita leitura. É preciso começar a ter contato com as publicações científicas, a maioria delas na língua da ciência – o inglês. Assim, se você entrou em um curso de nível superior e tem intenção de ser cientista, precisa no mínimo ler em inglês e compreender os artigos da área, cada qual com suas terminologias e técnicas. É exigido do aluno de Iniciação Científica uma dedicação com seu trabalho bem além dos horários destinados às técnicas de laboratório. E ele não pode se descuidar das aulas, claro.
Há alguns anos temos também a possibilidade de que alunos do Ensino Médio de escolas públicas participem de atividades de pesquisa no laboratório. São conhecidos como Bolsistas de Iniciação Científica Júnior. Já tivemos bolsas destas em nosso laboratório, várias com excelente aproveitamento. Um erro do sistema é não dar continuidade às bolsas de Iniciação Científica aos alunos que vieram desta modalidade Júnior quando entram nas universidades. A primeira vez que ouvi falar do programa Jovens Talentos para a Ciência achei que se tratava disso, mas não. Este programa que recentemente foi alvo de discussões por problemas do edital. Nele os alunos recém ingressos nas universidades se inscreviam para uma prova independente de ENEM e, caso aprovados com uma nota mínima e dentro da cota disponibilizada nacionalmente, obtinham uma bolsa de Iniciação Científica para trabalhar em algum lugar na universidade. Esse é o problema, no meu modo de ver. É bem diferente pois os bolsistas aprovados não estão vinculados a um orientador ou a um projeto. Uma pessoa na universidade é responsável por direcionar este aluno a um laboratório. A qual? Sei lá. Enfim, algumas universidades podem se ajustar a isso de alguma forma. Como escrevi antes, se fosse uma continuidade na carreira científica para ex-bolsistas Júnior, seria muito mais proveitoso, até porque, não há cotas para universidades como há nos casos das já consagradas bolsas de Iniciação Científica.
Falando nestas cotas, estas cresceram muito nos últimos anos. Quando entrei na universidade eram pouquíssimas bolsas.
É possível entrar no mundo da ciência após sua graduação, embora a maioria dos cursos exija um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que deve ser orientado por um docente por meio de um projeto de pesquisa. Deixar para ter este primeiro contato com a ciência para o TCC pode acontecer com alguns alunos, mas não é recomendado. Aqueles alunos que já estão em laboratório com estágios de Iniciação Científica há mais tempo normalmente conseguem mais destaque e mais oportunidades de pós-graduação.
Assim, se você entrou em um curso de graduação, especialmente algum relacionado com áreas de formação de cientistas, é bom começar a se informar sobre as áreas de pesquisa disponíveis em sua universidade, sobre os docentes que fazem pesquisa, sobre os laboratórios. Em seguida começar a conversar com estes docentes e conhecer sua linha de pesquisa e laboratório, dentro do cronograma que cada orientador age. Alguns preferem alunos que já fizeram alguns semestres do curso, outros permitem a participação de calouros. A sua iniciativa é importante, pois é um pré-requisito para ser cientista. Quer ser um cientista? Então pode começar…