Há alguns dias, a convite do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proferi uma palestra no evento “Você Faz Cultura”, com o tema “TV e Rádio Universitárias – Políticas Públicas para Democratização Através da Tecnologia Digital”. Na realidade, o mote principal era falar sobre a nossa experiência com o Rock com Ciência. Aqui, vou relatar alguns aspectos interessantes da palestra. Se o vídeo da palestra foi disponibilizado em algum lugar, eu posto aqui.
Como eu não tenho experiência com TV e Rádio Universitárias, seria complicado começar a falar com propriedade sobre o assunto. Especificamente este tema foi muito bem abordado na palestra posterior à minha, com o prof. Carlos Alberto da Rocha, Diretor da UFPR-TV, acerca da Rede IFES, uma experiência excepcional que ainda vai revolucionar a TV aberta de qualidade no Brasil.
E o que dizer das políticas públicas para democratização? Bom, esta democratização é do conhecimento, da cultura, da ciência, pois é disso que se trata o ciclo de debates. Fui então, atrás de informações que pudessem embasar um mínimo de esforço meu para tratar do tema. Como eu venho da escola tradicional da ciência no Brasil, desenvolvi dissertação de mestrado e tese de doutorado em assuntos específicos de pesquisa científica. Assim, os meios onde eu costumo encontrar suporte governamental para o desenvolvimento das atividades acadêmicas são basicamente os editais do CNPq.
O CNPq há algum tempo tem feito grande propaganda sobre a importância da popularização da ciência. Não faz muito tempo que reformulou o próprio site encaixando uma área para tal. Faz menos tempo ainda que cumpriu o prometido, de encaixar uma aba específica no sistema do Currículo Lattes para que os pesquisadores insiram suas aventuras na popularização da ciência. Como já comentei no blog e também na palestra, ainda não sabemos como os comitês utilizarão estas informações para avaliar as propostas submetidas à agência. Aliás, precisamos ainda fazer o dever de casa e inserir tais atividades no cômputo geral de nossa avaliação para progressão na carreira em nossas universidades. Se você conhecer algum caso que dê a devida importância para esta tarefa, por gentileza, compartilhe!
Continuando em relação à popularização e o CNPq. Como anda a nova área de popularização da ciência no site do CNPq? Ridículo. Não há atualizações. As notícias da capa são antigas e a área de notícias remete à antiga área de notícias que já existia antes. A ideia é boa, mas as pessoas precisam de atualizações constantes, caso contrário, não visitam mais a página. Se no momento em que você ler este texto tiver vídeos, fotos, divulgação, notícias atualizadas excelente! Enquanto estou escrevendo está tudo na mesma. Pouco conteúdo e desatualizado. Torço por melhoras.
No entanto, há uma área bem interessante, que pode ser acessado por esta aba de “popularização da ciência” onde está mais evidente, mas também pode ser acessada pela página principal. O mapa de investimentos do CNPq. Esta página me interessou muito pois eu estava mesmo tentando saber qualquer tipo de informação sobre o investimento público em democratização do conhecimento.
Pelo mapa é possível filtrar as informações de várias formas. Brinque o quanto quiser, é legal! Eu parti diretamente para projetos de apoio à pesquisa e observei por área, para ver como está a área de Divulgação Científica. No dia 21/09/2012 quando fiz a busca encontrei 127 projetos apoiados nesta área. A seguir, um gráfico com a distribuição dos recursos destes 127 projetos, de acordo com os temas.
A maior parte dos auxílios que se pode observar no mapa é para eventos. Como eventos eu incluí feiras de ciências, mostras científicas, e outras atividades. O tema em questão se encaixaria no item multimídia, redes sociais e inclusão digital, com 4% dos recursos disponibilizados. Produção de material didático ou vídeo representam somados 7%. Ou seja, iniciativas de inovação na área de popularização da ciência ainda não são representativas.
Ainda analisando o CNPq, verifiquei quantos editais foram abertos no ano de 2012 destinados exclusivamente para a divulgação científica e popularização da ciência. Para meu espanto o resultado foi zero. Nenhum. No ano de 2011 houve um edital específico devido ao Ano Internacional da Química, além dos editais de olimpíadas (aliás, o COB – Comitê Olímpico Brasileiro – não quer mais que estas atividades sejam chamadas de olimpíadas, o que é uma piada, mas motivo para outro post, quem sabe).
Como bem frisou durante o evento o Prof. Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia (Secretaria de C&T para Inclusão Social) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, os editais do CNPq não são a única forma pela qual o Governo Federal apoia a popularização da ciência. Há apoio através de outras agências, como a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, que aparentemente está renomeada para Agência Brasileira de Inovação, de acordo com o website) e Fundações de Amparo à Pesquisa Estaduais. Estes outros apoios realmente precisariam ser melhor contabilizados para ter um panorama mais condizente com a realidade.
A questão é que estamos engatinhando no quesito popularização da ciência. Muitos cientistas tiram o corpo fora afirmando que este é o papel do jornalista. Isso quando não criticam os cientistas que fazem divulgação científica. Penso que há o papel do jornalista em transformar uma pesquisa científica em notícia, mas também há o papel do cientista em pessoalmente deixar os fatos científicos mais palpáveis para o povo em geral. Alguém pode argumentar que o seu produto científico já é uma contribuição significativa para a sociedade que financia seus projetos mas, por mais que isso seja realmente verdade, contribuição maior ainda pode ser realizada com um simples blog e, uma coisa não exclui a outra. Enquanto isso, o analfabetismo científico segue à galopes. Em nossa pequena contribuição para a divulgação científica através de rádio e internet, o Rock com Ciência, abordamos este tema duas vezes.
Eu entendo que a popularização da ciência deve ser feita também por cientistas. É claro que nem todos conseguem traduzir as informações científicas para a linguagem popular, mas existem diferentes meios de contribuir com a diminuição do analfabetismo científico. Atualmente até mesmo um simples blog com resenhas críticas de artigos publicados (próprios ou de outros) ou de livros já é algo interessante.
Há quem discuta que estes blogs só servem aos iniciados, ou seja, só quem já tem o interesse em buscar mais informações é que acaba obtendo proveito deles e, com isso, o papel de difundir o conhecimento torna-se menos eficiente. Isto é um fato. Mas também é um fato que constantemente as pessoas utilizam mecanismos de busca para procurar por determinadas informações e, ocasionalmente, alguns deles serão levados ao seu blog (eu tenho esta esperança… 😀 ).
Ainda aguardo o dia em que a popularização da ciência seja mais valorizada, como algo de utilidade pública que é. Não consigo admitir que o conhecimento não seja algo que deva ser almejado e, portanto, democratizado. Oferecer cultura e conhecimento às pessoas deve ser tão valorizado quanto oferecer uma nova tecnologia.