Protetores de animais fofinhos

Está em todos os noticiários. Ativistas invadem laboratório do Instituto Royal de pesquisa de fármacos, depredam e roubam os animais utilizados nas pesquisas. Sim, depredam e roubam, pois foi isso que fizeram. Tanto é roubo que a polícia avisa que “adotar” um animal destes é crime de receptação.O uso de animais em pesquisa de fármacos e de cosméticos é um tema de extrema importância e que merece discussão. Até que ponto se pode chegar? Veganos afirmam que nenhum animal pode ser utilizado sequer para alimentação muito menos em pesquisas científicas ou tecnologicas. A pergunta é: dado o atual conhecimento que temos, podemos dispor deste modelo de testes?

Não vou entrar no mérito do uso de animais para alimentação. Minha opinião pura e simples é a de que não temos ainda condições para eliminar completamente seu uso, mas explicar e discutir isso envolve outra postagem.

Quero abordar especificamente o uso de animais em pesquisa. Aliás, este é um tema bem regulamentado no Brasil. Quando se vê uma notícia como esta nos jornais, certamente os desavisados pensam o contrário. No entanto, em 2008 foi aprovada uma lei, denominada lei Arouca (Lei nº 11.794, de 08.10.2008), que estabelece os critérios para a criação e utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica. os critérios são extremamente cuidadosos e envolvem a ação direta de profissionais de Medicina Veterinária e Biólogos. A lei estabelece que qualquer atividade precisa ser aprovada por uma comissão ou comitê de ética, regulamentado pelo Decreto no. 6899 de 15 de Julho de 2009, que

“Dispõe sobre a composição do Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal – CONCEA, estabelece as normas para o seu funcionamento e de sua
Secretaria-Executiva, cria o Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais –
CIUCA, mediante a regulamentação da Lei n o 11.794, de 8 de outubro de 2008, que
dispõe sobre procedimentos para o uso científico de animais, e dá outras providências.”

Ou seja, não importa qual a atividade de pesquisa, o responsável deverá encaminhar o projeto para avaliação de uma comissão de ética, composta por vários profissionais e integrantes da sociedade (incluindo associações de proteção aos animais), que avaliam a proposta dentro de critérios estabelecidos e que não causam dor ou sofrimento aos animais.

Para se ter uma ideia, a coisa é tão crítica que para fazer um inventário de fauna de peixes, por exemplo, é preciso submeter o projeto à comissão de ética, que vai avaliar todo o procedimento. As revistas científicas da área zoológica há tempos já exigem procedimentos similares, na verdade.

Desta forma, uma ação como a que aconteceu esta noite é totalmente sem sentido. Se houver provas de maus tratos é necessário fazer uma denúncia na polícia, que irá investigar. Aliás, houve análise da perícia que não encontrou sinais de maus tratos a animais no Instituto.

Enfim, resta a questão do uso dos animais na pesquisa. É claro que isso é um problema que deve ser discutido. Já existem meios de se utilizar modelos para algumas pesquisas biomédicas, mas não para todas. É bem provável que qualquer defensor dos direitos dos animais exija que o mercado ofereça medicamentos seguros. Afinal, quem quer ser cobaia? o fato é que o número de animais utilizados em pesquisa é extremamente menor do que o utilizado na alimentação atualmente. É uma parcela muito pequena. Por que então os ativistas resolvem lutar contra seu uso? Por que não invadir um galinheiro?

Eu tenho uma hipótese, que já escrevi nas redes sociais: não temos associações de proteção aos animais, temos associação de proteção aos animais fofinhos. Cães são fofinhos, então merecem ser protegidos. Coelhos são fofinhos, merecem ser protegidos. Bois e touros são feiosos, por isso ninguém invade um rodeio, onde efetivamente os animais são submetidos a maus tratos (embora os organizadores e defensores aleguem que não, e que podemos ir verificar que nenhum animal sai machucado, como se só ferida exposta fosse sinônimo de maus tratos). Toda aquela luz, som alto, estresse verificado inclusive através de dosagem de hormônios de estresse como o cortisol. Os protetores dos animais fofinhos vivem enviando malas diretas próximo às festas de fim de ano, para que as pessoas protejam seus bichinhos de estimação que se estressam com os fogos de artifício. Enquanto isso, os bois do rodeio…

Tendo em vista o atual conhecimento tecnológico, as pesquisas envolvendo animais ainda são necessárias. O que os protetores precisam ter em mente é que os animais são bem tratados e cuidados, de forma a causar o mínimo de sofrimento. A lei garante isso, assim como garante punição severa caso não seja cumprida.

A discussão é necessária. Encontrar alternativas é necessário. Agir como dono da verdade, da moral e da ética, passando por cima da legislação, não é. Principalmente quando se age contra um dos institutos mais importantes em testes com animais do país, que atua dentro de todos os requisitos legais necessários.

3 thoughts on “Protetores de animais fofinhos

  1. Partilho aqui o link para um post sobre este caso, num blog em português (do outro lado do Atlântico) de autores com uma ligação profissional ao mundo animal.

    Animalogos

  2. Prezado, generalização é injustiça. Não são todos os ativistas que agem desta forma. Repito, não generalize!

    1. Rubens Pazza disse:

      Olá Diany, estou me referindo aos que invadiram o Instituto e aos que se negam a analisar os fatos e ficam assinando petições exigindo que os testes com animais sejam eliminados quando não se tem outra alternativa. Veja a outra postagem.

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