Um resumo sobre o uso de animais na pesquisa científica. Será publicado no jornal Folha Biológica e no Jornal do Povo.
Se você já tomou um analgésico, um antibiótico, uma vacina, um anti-inflamatório ou qualquer outro medicamento, você já se beneficiou com o uso de animais em pesquisas. Se você usa creme dental, filtro solar ou desodorante, também. Atualmente, até mesmo na alimentação somos beneficiados com os testes em animais, principalmente com o avanço dos cultivos de Organismos Geneticamente Modificados. O homem usa animais para os mais diversos fins há milênios, seja para a própria alimentação, obtenção de produtos, companhia, serviços domésticos, atividades de lazer e até em pesquisas científicas para testar novos produtos ou substâncias (mesmo as extraídas da natureza). Esta finalidade tem chamado bastante a atenção desde a invasão do Instituto Royal, onde várias espécies animais são utilizadas para testes de medicamentos.
Enfim, como é que a ciência e a tecnologia usa os animais, por que usa e até quando isso será necessário? Estudos de base foram eficientes em demonstrar o quanto várias espécies animais se assemelham em sua estrutura anatômica e fisiológica com o organismo humano, fazendo com que modelos de testes que utilizem animais possam ser adequados para explicar o que acontece com o nosso próprio organismo.
Na ciência, animais são utilizados para inúmeros fins. Podem ser utilizados, por exemplo, para o estudo da vida e biologia do próprio animal. Também podem ser utilizados como modelo de estudo de mecanismos fisiológicos e bioquímicos humanos. Por sua vez, também são utilizados para os testes iniciais sobre como um determinado composto age nos organismos vivos e como tais organismos respondem a ele.
Modelos animais em geral são utilizados porque permitem o acompanhamento de várias gerações em um curto intervalo de tempo. Seria impossível, por exemplo, acompanhar a ação de uma determinada droga no sistema reprodutivo de humanos, pois seria necessário acompanhar a vida do voluntário até sua idade adulta, aguardar sua reprodução e avaliar seus descendentes. Além disso, seria impossível manter cada voluntário em condições idênticas e controladas para evitar que outros fatores interfiram nos resultados. Como se não bastasse tudo isso, ainda tem os problemas das variações genéticas, que também podem interferir nos resultados. É aí que entram os estudos com modelos animais. Os animais escolhidos apresentam anatomia ou fisiologia semelhante à dos humanos, ciclo de vida curto, podem ter as outras variáveis ambientais reguladas em ambiente controlado e são obtidas por processos que minimizam as variações genéticas (são linhagens).
Quando se trata de um novo medicamento, por exemplo, os ensaios com animais fazem parte da fase pré-clínica, que é seguida pelas fases clínicas, que envolvem voluntários humanos. Se qualquer novo medicamente de qualquer forma será testado em humanos, por que é que não se elimina o uso de animais e parte-se de uma vez para os testes clínicos? A resposta é simples: com isso, os testes diretamente em humanos tornam-se mais seguros. São raros os casos de problemas graves associados a testes clínicos de novas drogas.
Há muito tempo a comunidade científica discute até quando utilizará animais nos testes. Nenhum cientista fica à vontade em realizar os testes, mas eles são necessários. Por isso, desde os anos 90 se busca os 3 Rs – reduzir, repor e refinar. Para uma alternativa aos testes (repor) ser utilizada amplamente, ela primeiro precisa ser validada, ou seja, é necessário que seja demonstrado que a nova técnica é tão eficiente quanto o uso de animais. Testes de irritação de pele e olhos, por exemplo, já não são mais realizados em animais, pois existem alternativas. Entretanto, não há previsão para alternativas para muitos testes, principalmente os que envolvem longo prazo e os que envolvem drogas de efeitos em muitas partes do organismo. Imagine uma droga para hipertensão. Não é possível testar seu efeito em um tubo de ensaio ou em uma placa de cultura de células, pois a pressão sanguínea é dependente de vários fatores. Desde a regulação do calibre dos vasos sanguíneos, até complexos sistemas fisiológicos de rins, fígado e pulmões estão envolvidos. Isso também não pode ser simulado em computador, pelo menos não nos próximos anos.
Por outro lado, as discussões sobre refinar os estudos e reduzir o número de animais utilizados tem contribuído para que o número destes tenha diminuído bastante, sem comprometer a qualidade dos testes. Apesar dos esforços existentes, infelizmente neste momento não é possível abrir mão do uso de animais nas pesquisas. No entanto, você pode ter a certeza de que o sacrifício deles não é em vão. Basta olhar para uma criança que recebe periodicamente a vacina antipoliomielite e está livre da paralisia infantil, por exemplo.
Se neste campo não podemos ainda substituir totalmente e livrar os animais do sofrimento, há outros em que sua presença é absolutamente dispensável, como aqueles relacionados com a diversão humana em rodeios e pesque-solte, por exemplo. Sinceramente, há inúmeras outras formas de diversão que podemos utilizar sem penalizar os animais. Por que não começar?