Postei este texto para induzir uma discussão no site da Comissão do Futuro.
Nos últimos anos, o Governo Federal investiu uma verba considerável para ampliar o número de vagas nas IFES, dando emprego a inúmeros recém-doutores. O que tem sido feito para mantê-los nestas IFES e manter sua produtividade científica?
Nos últimos anos, o Governo Federal investiu uma verba considerável para ampliar o número de vagas nas IFES. Com isso, também promoveu uma grande entrada de profissionais represados em pós-doutorados pelo Brasil afora (ou fora) que conseguiram seu espaço nos vários campi fora de Sede das IFES.
Como resultado, hoje temos vários recém-doutores empregados nas Universidades Federais, sedentos por iniciar suas atividades de pesquisa com autonomia.
Em 2008 aconteceu a única ação do CNPq para auxiliar estes novos docentes/pesquisadores. Um edital específico de bolsa Produtividade em Pesquisa para doutores recentemente contratados nestas instituições. Mas só isso, sem nem um centavo para o desenvolvimento dos projetos. E nunca mais este edital foi lançado. Este ano, seria o ano em que os bolsistas deveriam solicitar renovação de sua bolsa, mas não teve edital.
Como é que um recém-doutor consegue concorrer por recursos nos editais do CNPq? Em geral, ele precisa de verba maior para poder montar um laboratório com equipamentos simples (certamente nenhum recém-doutor vai querer solicitar um microscópio eletrônico ou um sequenciador automatizado em seu projeto) mas ao mesmo tempo caros, pois estamos no Brasil. Como ele vai concorrer contra grandes pesquisadores que aprovam projetos todos os anos, com centenas de publicações, dezenas de alunos de pós-graduação?
Neste último Edital Universal, o CNPq solicitou que os pesquisadores escolhessem 3 publicações de seu currículo por membro da equipe. Eu gostaria muito de acreditar que o avaliador irá observar apenas isso, e não o nome do pesquisador que está lá e todo seu histórico.
No fim, recebe-se sempre o comunicado de que a proposta não foi aprovada, apesar de ter seu mérito reconhecido, pois não alcançou pontuação para obter recursos frente à demanda qualificada.
Enfim, já não passou da hora de o CNPq ter editais específicos para estes recém-doutores nestes campi fora de Sede?
Minha experiência não serve como parâmetro (é uma evidência anedota, obviamente), mas talvez outros possam também prestar seu depoimento posteriormente. Concluí meu doutorado em 2005 (já não sou mais recém-doutor, não é mesmo?). Desde então tento, em vão, aprovar um projeto no CNPq. No início pensei que era porque eu estava numa Universidade privada e não orientava na pós-graduação. Na metada de 2007 isso mudou, entrei em uma Universidade Federal e em 2008 já estava credenciado. De lá para cá no CNPq o que consegui foi minha bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ2, felizmente não da cota para campi fora da Sede) e uma bolsa de Iniciação Científica para um aluno de um edital balcão (além das bolsas das cotas institucionais). Já perdi a conta de quantos editais participei, sempre com a mesma desculpa de que o projeto tem mérito mas não alcançou pontuação.
Felizmente, em duas oportunidades fui mais feliz na FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e consegui montar o laboratório mesmo que parcialmente, contando também com auxílio do Campus.
Como é possível dar prosseguimento à produção científica se não há verba? Estaremos enterrando nossos promissores doutores nestes locais sem estrutura de pesquisa?