Última repostagem, até porque acabou. Este texto é uma história interessante sobre uma descoberta que fiz por acaso, fazendo busca sobre um determinado tema. Um plágio na publicação científica nacional.
Conforme eu havia comentado na última postagem, esta semana vou relatar um caso curioso que protagonizei no mês passado. Um dos colegas de nossa sala está preparando um curso para preparação de projetos a serem submetidos a um órgão de fomento relacionado com recursos hídricos e me pediu para preparar alguns slides para ele mostrar na proposta de criação do curso ao comitê de sub-bacias. Dentro de algo parecido com minha especialidade, sugeri tratar de efeitos de toxicidade em peixes, e preparei alguns slides. Não sem antes realizar uma busca pela internet para ver se encontrava dados concretos sobre o assunto, que não é exatamente minha área.
Pois bem. Fiz a busca e encontrei um artigo interessante, publicado em uma revista online mantida por uma importante universidade pública brasileira, a revista “Agenda” (não vou citar os nomes das revistas nem dos envolvidos, por isso utilizo o que vier na frente; qualquer semelhança com periódicos existentes é mera coincidência). Trata-se de um artigo interessante, bem focalizado no que eu estava a procura. Tendo lido o artigo completo, parti em busca do próximo. Curiosamente, em alguns links depois encontrei um artigo com o mesmo título, publicado na revista “Carimbo” alguns anos antes, com outros autores. Resolvi conferir, pois comecei a ler e parecia tudo igual. Pois bem, o artigo publicado na revista “Agenda”, mais recente, era uma cópia absoluta daquele publicado na revista “Carimbo” anos antes. Plágio.
Fiquei curioso e fui atrás do currículo na plataforma Lattes do sujeito. Na realidade, dos sujeitos, pois o artigo tinha dois autores. Percebi, então, que o fulano tinha mais dois artigos publicados no mesmo número da revista “Agenda”. Fiz uma busca pelo título e o que descobri? Que os outros dois artigos também eram plágio. Fiquei sem palavras. A fulana, segunda autora de dois dos três artigos plágios tinha alguns artigos em seu currículo cujos títulos eram cópia de parte de títulos de outros artigos, mas na realidade eles não existiam, pois a revista e número não batiam. Enfim, dois caras-de-pau da pior espécie.
Com tudo isso bem guardado em pdf, escrevi ao editor da revista “Agenda”, onde foram publicados os plágios. Escrevi também para os autores dos artigos originais. O editor da revista me respondeu, dois dias depois, espantado tal absurdo. Disse ele que iria solicitar um parecer externo e convocar o conselho editorial da revista para tomar as devidas providências. Uma das autoras me escreveu uma semana depois, dizendo que não sabia nem como começar a responder depois de tamanho absurdo.
Alguns dias depois o editor da “Agenda” escreveu a mim e a todos os autores informando que avisou ao programa de pós-graduação onde o fulano fazia doutorado. O resultado foi o desligamento dele do programa e investigação para saber se obteve alguma vantagem e se o mestrado teve algo a ver com o assunto, pois poderia perder o título. O conselho editorial da revista, é claro, informou que vai tomar mais cuidado para tentar evitar tais problemas.
Agora, é muita cara-de-pau um sujeito copiar o trabalho de outros e publicar em uma revista online onde qualquer um tem acesso, basta digitar o assunto no Google e achar que vai sair impune. Imaginem o que acontece nos trabalhos de conclusão de curso em faculdades isoladas, onde nem o título da monografia fica online.
Eu já havia ouvido falar em casos de plágio, mas nunca havia presenciado algo tão aberrante. Um colega, bacharel em direito e especializado em direito autoral, comentou que um juiz foi convidado para banca de uma monografia na faculdade dele. Durante a argüição, o juiz deu voz de prisão para o avaliado, pois a monografia dele era cópia exata da dissertação de um mestrado em que ele participou como avaliador meses antes.
Plágio dá de 6 meses a 3 anos de prisão ou multa. Que eu saiba, o fulano que denunciei só perdeu a matrícula no doutorado até o momento. Vai caber principalmente aos autores dos originais tomar mais alguma providência, mas como são artigos científicos, que não geram lucros, é possível que nada de mais aconteça. O sistema protege bolsos, não idéias.
Fizeste o certo. E o autor do plágio perdeu o que ele tinha conquistado com o saber e suor de outros.