Expresso nostalgia

Inicialmente publicado no meu Tumblr, segue o primeiro conto, escrito no smartphone.

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Só consigo imaginar de que modo as pessoas se deslocavam antes do teletransporte. Imagine ter que sair de casa às 4h da madrugada para chegar no emprego às 8h. Segundo os historiadores, era assim com meus antepassados. Há relatos de que um parente meu, bem distante, talvez bisavô de um avô de meu tio, saia de casa ainda na escuridão, todos os dias. Caminhava quinze minutos até o ponto de ônibus mais próximo. Ponto de ônibus… Eles tinham a petulância de chamar aquilo de ônibus. Ou não sei porque ainda chamamos assim o transporte unidirecional de mais de mil pessoas simultaneamente. Motoristas correndo em estradas perigosas e movimentadas, transportando cerca de quarenta passageiros sentados e mais do que isso em pé, agarrados a ferros suspensos no teto. Meu parente ficava assim durante duas horas e meia. Descia próximo a uma estação de trem, cuja diferença para o ônibus era só o tamanho dos vagões e o modo de se movimentar – através de trilhos, com uma máquina movida a energia elétrica gerada pelas monstruosas hidroelétricas. Uma hora depois e ele saltava em uma estação que só distava vinte minutos a pé do seu trabalho.

Hoje temos as estações públicas de teletransporte. Vamos de uma ponta a outra da cidade em menos de um segundo. Já não precisamos trabalhar sequer na mesma cidade em que moramos ou nem muito próximo. Menos de meio segundo.

Amanhã eu lembro de trazer um livro para passar estas duas horas de fila, diárias para tomar o teletransporte na minha estação, aí não vou ficar nestes devaneios e nostalgias de tempos que não vivi.

Agora sim, minha vez, oh não, fura fila desgraçado! Menos de um segundo e só preciso caminhar dois km até o trabalho.