Seguindo com os textos sobre o evento no México, agora vou comentar um pouco sobre como foram as visitas às cavernas. Uma das visitas fazia parte da programação e a outra seria um momento pós-evento o qual tive a possibilidade de participar. Na realidade, vários grupos de pesquisa aproveitam estes momentos para coletar dados e amostras em campo.
Uma das melhores coisas deste evento foi a visita à caverna. Na semana anterior à viagem, a organização enviou um comunicado sobre o que deveríamos levar e os cuidados a serem tomados. Entre as coisas necessárias estavam um capacete, lanternas de cabeça e um respirador – uma máscara necessária para filtrar os esporos de fungos causadores de histoplasmose, comum na poeira do guano dos morcegos das cavernas. Pois é.
Tudo pronto, então, para a visita. Fomos em um grupo de umas 20 pessoas visitar a caverna Micos ou Rio Subterrâneo. Leva este nome pois na época das chuvas um pequeno rio desce pela entrada da caverna e some por entre as pedras. Na época seca, agora, formam-se três principais poços onde podemos encontrar exemplares do peixe cego. Aliás, em todas as três encontramos tanto peixes troglomórficos quanto os de fenótipo de superfície, mas a proporção é bem desviada para os exemplares troglomórficos. São poucos os que conseguem competir com eles. Na próxima postagem vou comentar mais sobre isso.
Pois bem, na primeira poça estão os realmente troglomórficos, cegos e bem despigmentados. Vemos uns poucos exemplares de superfície, em geral infectados com doenças ou muito magros e pequenos. A pressão seletiva nesta poça é extremamente favorável para os troglomórficos. Nas demais, há um pouco mais de peixes com fenótipo de superfície e estão melhores, talvez até por ser uma poça mais ampla, com mais possibilidades. Esta caverna está sendo estudada agora e trata-se de um excelente modelo para estudo sobre as características adaptativas à vida na caverna.
A entrada da caverna é razoável, mas é uma descida entre pedras. Desci no segundo grupo, junto com nada menos que William R. Elliott, um dos maiores nomes da espeleologia mundial. Ele já está aposentado e esta é possivelmente sua última entrada em cavernas. Também nos acompanhou Luís Espinasa (comentei sobre ele em outro texto).
Rio Subterrâneo não é uma caverna ampla, apresentando apenas um ou outro salão mais espaçoso. Rapidamente se chega até a primeira poça sem maiores problemas. Paramos ali e observamos os peixes totalmente troglomórficos. Pegamos um para ver mais de perto. Na sequencia há um trecho complicado. Uma subida entre seixos rolantes (Rock and Roll, baby!) em uma passagem estreita. Passa-se apenas um por vez para evitar pedras rolando na cabeça do próximo. Mais alguns metros adiante e um obstáculo maior. um grande buraco que precisamos descer utilizando uma escada de cordas. Dois espeleólogos experientes nos auxiliaram com cordas. Um acima e outro abaixo. Aqui um agradecimento a eles, Stéphan e Laurent, dois pesquisadores do grupo da França. Descendo entramos diretamente na segunda poça, muito maior do que a primeira. Andamos dentro da água por alguns metros passando por uma abertura relativamente baixa até alcançar o outro lado. Alguns trecho desta poça são mais profundos, mas por onde passamos chegou até a cintura.
Alguns metros andando no lodo de guano, algumas pedras e logo alcançamos um grande salão totalmente inundado. Muito maior que os anteriores e mais profundo. Este lago termina no fundo da caverna e parece haver uma passagem que, segundo o Luís Espinasa, precisa ter equipamento de mergulho ou ser muito louco para atravessar.
Enfim, foi uma experiência sensacional. No outro dia tive a oportunidade de conhecer outra caverna, a Pachón, de onde saíram os primeiros estudos com os Astyanax de caverna. Esta tem uma entrada bem difícil depois de subir um morro relativamente íngreme. No entanto, se abre para grandes salões lotados de morcegos. No fundo da caverna encontramos o lago onde coletamos alguns exemplares. Ali só existem troglomórficos. Coletei vários para que depois o pesquisador William Jeffery fosse retirar amostras para extrair DNA. Ele foi depois, pois estava em outro ponto antes, então deixamos o balde cheio de peixes para ele dentro da caverna. Desta vez fui com o grupo do prof. Ernesto Maldonado, da UNAM (Universidade Autônoma do México).
Também fiz um rápido experimento para o pesquisador Masato, japonês que faz pós-doutorado no laboratório de William Jeffery. Ele trabalha com a expressão de genes relacionados com o reconhecimento de vibração. Bati com a mão na superfície da água e filmei a reação dos peixes. Haviam poucos no local onde fiz o teste, mas eles prontamente vieram até meus dedos.
E assim foi a parte exploratória do evento. Muita experiência, muitos contatos. Agora é planejar propostas para conseguirmos verba em editais de cooperação internacional.
Assim que chegar ao hotel na Cidade do México, onde a internet é melhor, vou adicionar fotos para ilustrar alguns trechos desta exploração.*
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