Resumo apresentado no 58o. Congresso Brasileiro de Genética. Faz parte de uma pesquisa mais ampla que deveremos publicar em breve. Só não posto os gráficos pois pretendemos colocá-los no artigo final e, deve ser inédito não é mesmo?
A biodiversidade é fruto da evolução, sem intervenção de divindade? Opinião de universitários ingressantes em diferentes cursos
Pazza, R; Amorim, NPL; Cazetta, EA; Kavalco, KF
LaGEEvo – Laboratório de Genética Ecológica e Evolutiva, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba
Palavras-chave: divulgação científica, criacionismo, evolução, design inteligente, ensino de evolução
A Evolução Biológica (ou a herança com modificações) é uma idéia bastante popular e intuitiva, e embora seja corroborada enfaticamente a cada nova publicação científica, entre o público geral é ainda pouco aceita como Lei Natural. É perfeitamente possível que todas as pessoas com o mínimo grau de instrução já tenham ouvido falar em Darwin, o “pai” da Teoria da Evolução. No entanto, a Teoria Evolutiva é possivelmente uma das leis naturais mais mal conhecidas pelo grande público, o que a torna peculiarmente fadada a incompreensões, desentendimentos e à disseminação de conceitos errôneos. Há alguns anos temos tentado entender que fatores podem estar relacionados com esta incompreensão, tendo em vista que a Lei de Diretrizes e Bases do ensino Básico é clara em afirmar que a Evolução é o eixo norteador das disciplinas de biologia deste grau de ensino. No presente trabalho, correlacionamos as médias obtidas em um questionário sobre evolução em nível de Ensino Médio aplicado a 420 alunos recém-ingressos no Ensino Superior na Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, em seus 10 cursos (12 turmas), com o grau de concordância dos mesmos em relação a afirmações que remetem à influência da religião no pensamento dos alunos (variando de 0 a 10). Foi observada forte correlação positiva entre a média dos alunos nas dez questões de conhecimento e o grau de concordância com a seguinte frase: “A biodiversidade é fruto da evolução, sem intervenção de divindade” (R2=0,54). Nesta questão, a média do grau de concordância geral foi de 5,17, sendo os alunos de Ciências Biológicas os que apresentaram maior grau de concordância – 7,87, enquanto os alunos do curso de Administração (turma Integral) apresentaram o menor grau de concordância – 4,27. Isto significa dizer que aqueles alunos que compreendem melhor o que é evolução biológica costumam aceitar a evolução da biodiversidade como algo específico do mundo natural. A análise de variância demonstrou que as médias dos alunos que aceitam criacionismo como alternativa à evolução (55,1% do total de entrevistados) diferem significativamente dos que não aceitam (p=0,02). Mais uma vez, os alunos de Ciências Biológicas se mostraram menos propensos a aceitar o criacionismo (33%). Também se observou correlação negativa entre as médias e o grau de concordância com afirmações sobre se a ciência e a legislação devem seguir preceitos cristãos. Estas observações demonstram que existem lacunas no conhecimento sobre biologia evolutiva em alunos egressos do Ensino Médio devido a questões religiosas. Tendo em vista o crescimento das denominações religiosas fundamentalistas no Brasil, faz-se necessário um esforço coletivo para evitar que o ensino de ciências no país seja ameaçado.