E essa história de banir as sacolinhas plásticas nos estabelecimentos comerciais? Eu ia postar algumas coisas no twitter, mas ia levar vários twitts e encher a timeline do pessoal. Resolvi escrever aqui. Vejo implicações bem interessantes desse movimento com a polêmica do Código Florestal, o que acham?
Outro dia estive em Belo Horizonte. Passei em uma farmácia e comprei alguns produtos. Ao fazer o pagamento o rapaz do caixa pegou duas ou três caixas de remédio que eu havia comprado e quis me entregar, assim, na mão. Olhei estranho e ele me avisou que o estabelecimento não estava mais fornecendo sacolas plásticas e, se eu quisesse, precisaria adquirir uma biodegradável por 19 centavos.
Depois do primeiro impacto, que me deixou fulo e sem ação por alguns segundos, comentei: É muito fácil ser ecologicamente correto quando os outros pagam a conta. Foi aí que o rapaz comentou que se tratava de uma idéia dos vereadores que acabou virando lei em Belo Horizonte.
Ora, então os políticos de BH, acharam ecologicamente correto banir as sacolas plásticas dos estabelecimentos comerciais da cidade. Excelente idéia, se o custo não fosse, só para variar, transferido aos contribuintes. Antes do advento das sacolas plásticas, todo estabelecimento comercial embrulhava seus produtos com papel. Haviam rolos de papel de embrulho, sacolas de papel de vários tamanhos nos supermercados. E até onde eu lembro, nenhum estabelecimento cobrava explicitamente a embalagem do cliente. É claro que estes custos, como todos os demais, estão embutidos no preço dos produtos. Mas alguém por acaso viu diminuição de preços em decorrência do banimento das sacolas plásticas? Eu não vi. O preço do remédio que comprei é absolutamente idêntico ao que pago em outros lugares.
Qual o problema em retornar ao uso do papel de embrulho e das sacolas de papel? Se é para trocar por algo biodegradável, o papel é o melhor caminho pois o tempo de degradação no ambiente é menor, além de ser reciclável. Por sua vez, encontrei informações na internet de que as sacolas biodegradáveis custam cerca de 10% a mais que as convencionais (se alguém tiver dados mais concretos, agradeço), o que não é um absurdo para os comerciantes terem que cobrar dos clientes.
A questão agora é de onde vem esse espírito ambientalista dos nossos políticos? Se a lei está em vigor é porque foi proposta por um vereador, votada, aprovada pela maioria e sancionada pelo prefeito. Poderíamos concluir que nossos políticos estão abrindo suas mentes para um caminho de desenvolvimento sustentável. Não critico a idéia, pois é uma idéia boa e interessante. Apenas critico o absurdo de ou levar minhas caixinhas de remédio na mão ou pagar pelo pacote, sem nem um centavo de desconto no produto.
O mais interessante é que este mesmo sentimento de necessidade de fazer alguma coisa pelo meio ambiente não se reflete quando a questão é o Código Florestal. Nesta questão, pode-se passar por cima de um corpo de cientistas que afirma que aprovar estas mudanças no Código Florestal é um retrocesso. Pode-se premiar quem já desmatou, ou seja, quem agiu contra a lei vigente. Enfim, uma série de absurdos estão sendo cogitados e com uma possibilidade séria de aprovação. Ser favorável à substituição das sacolas biodegradáveis e aprovar as alterações propostas por Aldo Rebelo no Código Florestal são ideais completamente antagônicos em relação a um único tema, um único beneficiário: nós mesmos e o meio ambiente em que nos encontramos. Se os políticos podem ouvir os cientistas que afirmam que é importante que diminuamos o uso de plástico, por que não podem ouvir a mesma ciência que afirma que é importante mantermos as reservas legais, as matas ciliares, as áreas de proteção permanente, enfim, nossa biodiversidade.
O problema é que a questão não é ideológica, é econômica. Os ruralistas tem um poder muito maior do que os produtores de sacolas plásticas.