Uma simples pergunta no Twitter parece estar criando um movimento entre blogueiros de ciência do Brasil. Permitam-me enumerar os meus motivos e tentar contribuir para clarear a questão: os blogs de ciência brasileiros estão desaparecendo?
O DNA cético nunca teve uma produção exemplar. Comecei a fazer blog quando já estava com tudo que vou descrever abaixo em andamento e, pelo menos para mim, isso implica em um blog menos produtivo. Antes dedicava o tempo a textos para o Biociencia e Projeto Evoluindo que, aliás, estão mais às moscas ainda. Quando comecei o blog, minha intenção era conseguir um texto por semana. Obviamente não está sendo possível.
Roberto Takata (Gene Repórter) postou um interessante texto resumindo a discussão que se seguiu a partir da pergunta no Twitter, comentando sobre sua falta de tempo e motivação, bem como da substancial queda na atividade dos blogs de ciência, muitos do Scienceblogs Brasil. Carlos Hotta (Brontossauros em Meu Jardim) questionou se o portal não poderia ser um dos responsáveis por inibir a produção de novos blogs. Será que a visibilidade dada a um blog do Scienceblogs ofusca blogs “fora do eixo”? Aparentemente estamos com dois problemas: não estão surgindo novos blogs e os que existem diminuíram a produção.
Penso que uma boa parte dos blogueiros começou blogs ainda na pós-graduação, quando a juventude e alguma flexibilidade de horários permitia extravagâncias de passar a madrugada escrevendo ou escrever um texto enquanto aguarda o tempo de uma reação no laboratório.
Comigo o problema é mais ou menos este: antes do blog vem outras necessidades, ou obrigações. Preparar aulas de uma (ou duas) disciplinas que ainda não lecionei; corrigir dissertação de mestrado da aluna; corrigir TCC’s de alunos; corrigir relatórios de Iniciação Científica; elaborar projetos para enviar a órgãos de fomento; elaborar e corrigir provas; dar parecer em artigos para revistas; editorar revistas científicas; organizar evento; escrever relatório de projetos; escrever um projeto pedagógico de curso; resolver dezenas de burocracias das atividades administrativas que tenho acumulado nos últimos anos; orientar no laboratório, efetivamente. E aí vem as atividades de extensão da universidade. Dentre as quais, escolhi me dedicar à divulgação científica com o Rock com Ciência e a Folha Biológica (os websites deveriam entrar aqui, mas ainda não deu tempo).
Nem sempre é tudo ao mesmo tempo, mas uma coisa sempre vai atropelando a outra e o que fica prejudicado, evidentemente, é o blog.
Várias das atividades listadas são utilizadas especificamente como parte do sistema de contagem de pontos para progressão profissional ou para acumular currículo (útil para tentar conseguir mais atividades de projetos de pesquisa à frente dos textos do blog no futuro). Os textos no blog não auxiliam nisso.
Apesar de projetos de extensão universitária serem encorajados, estimulados e financiados nas universidades públicas e privadas, e apesar de divulgação científica ser uma atividade de extensão, não é comum observarmos o estímulo destas atividades. No último edital de extensão da FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), por exemplo, pouquíssimos trabalhos de divulgação científica foram aprovados. Apenas recentemente o CNPq criou uma comissão e uma cota de bolsas de Produtividade em Pesquisa para quem trabalha com divulgação científica. Um grande passo, diga-se de passagem, que talvez possa mudar um pouco a tendência que está sendo observada. Resta-nos saber se os jovens blogueiros recém-contratados terão chances de obter alguma destas bolsas.
Acredito que haja também a motivação das leituras. Blogs bastante lidos motivam seus autores a escrever mais e de modo mais frequente, como um círculo virtuoso.
Enfim, use seu blog e continue o debate. O que te motiva? Quais suas dificuldades?
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PS: para acompanhar a discussão pelo Twitter foi criada a hashtag #blogciencia. Acompanhe e discuta!
Tweets sobre “#blogciencia”
Rubens, muito legal seu texto.
Quem mantém um blog científico no Brasil, além de ter que conciliar essa atividade com coisas inadiáveis da vida, tem que desenvolver a habilidade de não desanimar com a popularidade dos materiais do tipo "pão e circo". Você pode ficar anos com seu blog científico tendo apenas algumas centenas de likes no Facebook, e assistir uma página de algum personagem "boladão" ganhar 30 mil likes no primeiro dia.
Evidentemente, se levarmos em conta qualidade e interesse das pessoas, aquelas centenas que curtem seu blog científico são muito mais interessantes e valiosas que os milhares "boladões". Mas o que mais anima alguém a escrever é saber que alguém vai ler e pensar a respeito. Essa popularidade da falta de cultura gera um dado estatístico desestimulante.
Se eu puder deixar uma palavra de ânimo para meus colegas blogueiros: Continuem! Apesar de tudo, continuem. E valorizem o sentimento de satisfação pessoal por um trabalho bem feito, independente se ele será vitso por cem ou mil pessoas.
Bons Céus!
Leandro Guedes