No dia 16 de março embarco para o México. Vou participar do Astyanax International Meeting. Em meio a uma fase bem turbulenta vou aproveitar o tema e tentar começar uma série de postagens sobre os Astyanax, um dos principais gêneros de peixes que temos trabalhado.
É uma fase turbulenta e espero não me delongar nos textos pois estamos fechando os dados do Projeto Pedagógico do Curso de Ciências Biológicas do Campus de Rio Paranaíba da Universidade Federal de Viçosa, onde atualmente sou coordenador do curso. Nosso prazo está no limite, não temos secretária(o) para as coordenações e tudo acaba acumulando. Infelizmente não podemos fazer como vários funcionários e dizer “não posso fazer isso pois é desvio de função”. Professor não tem este privilégio. Em meio à revisão de matriz curricular, reunião de documentos, preenchimento de formulários, conferência de livros solicitados (e que não vieram e nem vão ser comprados, muito provavelmente), re-solicitações de livros (fazendo busca por três orçamentos para cada título), definições de diretrizes para estágio obrigatório, atividades complementares, Trabalho de Conclusão de Curso, etc, ainda restam as coisas mortais a serem feitas, como preparar e ministrar aula, corrigir prova, elaborar questionários, corrigir relatórios de Iniciação Científica, reunião com alunos, compras para o laboratório, e por aí vai. Se não bastasse isso, ainda tenho participação em uma banca de mestrado na quinta em Viçosa (dois dias e meio perdidos em viagem para meio dia de trabalho na banca) e aproveitar a visita à cidade grande para fazer o banner que será apresentado no evento do México. Aliás, ainda preciso terminar o banner.
Enfim, no meio de tudo isso ainda viajo para o México para o evento. Mas que diabos é um evento internacional sobre Astyanax? Quem é que quer saber disso? O que é isso? Nos próximos textos tentarei abordar o assunto por vários ângulos, mas hoje vamos ao básico.
Astyanax é um gênero de peixes ósseos com corpo coberto de escamas, pertencente à uma das mais numerosas ordens de peixes encontradas em água doce da região Neotropical (formada por parte da América do Norte, América Central e boa parte da América do Sul), os Characiformes, na família Characidae. São os peixes comumente chamados de tetras, lambaris ou piabas (dependendo da região). São peixes de pequeno porte, com hábito onívoro, alcançando até uns 14cm, eventualmente, dependendo da espécie. Habitam todo tipo de ambiente aquático de água doce, como lagoas, rios de grande porte e riachos.
O nome Astyanax é em homenagem ao filho de Hector de Tróia. O gênero é creditado aos pesquisadores Baird e Girard, datado de 1854, apesar de a primeira espécie descrita, Astyanax fasciatus, ter sido feita por Cuvier em 1819. Cuvier inicialmente havia descrito como outro gênero e só posteriormente isto foi revisado. Aliás, para esta espécie a questão toda é tão confusa que em sua descrição consta que a localidade tipo (o local exato onde o exemplar que deve balisar toda a espécie – o tipo – foi coletado) é “rios do Brasil”. Para qualquer um que tem a mínima noção da hidrografia brasileira esta localidade tipo é uma piada.
De acordo com o Fish Base, uma base de dados mundial sobre espécies de peixes, hoje há 137 espécies de Astyanax cadastradas. Este número tem crescido bastante após trabalhos que fazem revisões nos materiais depositados em museus em comparação com novos exemplares obtidos na natureza. Em alguns casos é possível resolver estas questões como a levantada sobre o Astyanax fasciatus, mas muitas vezes isso é muito complicado. A complicação começa pelo fato que os primeiros exemplares descritos não estão em museus no Brasil. Adicionalmente, são exemplares muito velhos e já perderam boa parte das características.
Nos próximos textos vou abordar o que torna este gênero tão interessante a ponto de haver um evento internacional só sobre ele.
P.S.: Esqueci de mencionar um torcicolo terrível. Será que é estresse?