No artigo anterior discuti sobre como uma característica pode ser determinada por um gene, e como um gene pode se mostrar variável em uma população.
O alelo, então, é uma forma variante de um gene. Cada cromossomo do par de homólogos possui um alelo, que é uma sequência de nucleotídeos em um determinado locus. O outro cromossomo do par tem o outro alelo. Em termos gerais, quando nos referimos ao gene estamos falando do conjunto dos alelos que estão em um determinado locus nos dois cromossomos homólogos.
Um indivíduo pode ter dois alelos iguais para um determinado gene, o que chamamos de homozigose. E pode ter dois alelos diferentes, o que chamamos de heterozigose. O conjunto destes dois alelos é o que chamamos de genótipo. A variação da característica que estamos observando a partir deste genótipo é o fenótipo. Genótipos são classicamente representados por letras, sendo uma para cada alelo, e maiúsculas para o alelo dominante e minúsculas para o alelo recessivo. Uma convenção é usar a letra da inicial do fenótipo recessivo, mas com o passar do tempo e a descrição de inúmeros novos genes isso acabou complicando. Entretanto, para efeitos didáticos utilizaremos uma única letra sem se importar com outros detalhes, como segue:
AA – homozigoto dominante;
Aa – heterozigoto;
aa – homozigoto recessivo.
Mas como determinamos se o alelo é dominante ou recessivo?
Vamos tentar um exemplo, com uma característica hipotética qualquer. Que tal cor de flor? Imagine que a cor vermelha de uma flor é determinada por um alelo e a cor branca é determinada por outro alelo de um mesmo gene. Conforme vimos, isto significa que existe uma sequência de nucleotídeos em uma molécula de DNA que determina a cor vermelha, enquanto outra sequência diferente determina a cor branca. De fato, o DNA não pode codificar um pigmento, mas pode ter a informação necessária para a síntese de uma enzima responsável pela fabricação do pigmento. A cópia normal pode produzir uma proteína normal, enquanto o alelo para a cor branca da flor pode ter informação para uma proteína sem função, que não consegue produzir o pigmento colorido e a flor fica branca.
Quando você tem os dois alelos que determinam a cor vermelha, obviamente você terá uma flor vermelha, e quando tiver dois alelos que determinam a cor branca você terá uma flor branca. Mas e quando o indivíduo for heterozigoto? A forma como se dá a interação entre dois alelos diferentes de um gene em um indivíduo é o que determina o que chamamos de dominante ou recessivo. Assim, precisamos analisar os heterozigotos.
De que maneira os dois alelos, ou seja, as duas cópias diferentes de DNA na célula interagem para formar o fenótipo? É aqui que definimos se um alelo é dominante ou recessivo. O heterozigoto possui apenas um alelo que codifica a enzima que produz o pigmento. Se esta única cópia do gene é suficiente para produzir a enzima e observarmos a cor vermelha, dizemos que este alelo é o dominante. Neste caso, não vamos observar a manifestação do alelo para cor branca. A flor inteira é vermelha, tal qual seria se o genótipo fosse homozigoto para flor vermelha. O alelo da flor branca está escondido, mascarado pelo efeito do alelo para flor vermelha. Desta forma, dizemos que o alelo para flor vermelha tem dominância completa sobre o alelo para flor branca. O alelo para flor branca continua presente no heterozigoto, mas não se manifesta neste indivíduo. Porém, pode se manifestar na geração seguinte, com a formação dos gametas, caso encontre outro gameta também para flor branca.
Note bem que a dominância está exclusivamente relacionada com a capacidade de manifestação da característica no heterozigoto. Não importa se 99% das flores do jardim seja branca, o alelo de flor vermelha continua sendo dominante. Não tem a ver com número nem força bruta. Não é uma relação de dominação, é uma interação de dominância. Em humanos há algumas características que podem confundir, mas exemplificam muito bem a questão. Por exemplo, analisando o número de dedos temos indivíduos ditos normais que possuem cinco dedos, e indivíduos que possuem mais do que cinco dedos, uma característica denominada polidactilia. A polidactilia é dominante. Sim, é determinada por um alelo dominante. Não importa que a maior parte das pessoas que você conheça tenha cinco dedos, polidactilia continua sendo uma característica dominante. Indivíduos em heterozigose já apresentam a polidactilia.
Há outras interações alélicas, a dominância incompleta e a codominância, mas desta vez vou ficar por aqui.
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