Eu fico pasmo com algumas coisas que cientistas escrevem para tentar fazer com que seus achados sejam mais do que realmente são. E mais pasmo quando revistas grandes encampam a idéia. Aqui, vou comentar brevemente sobre um artigo publicado na revista Science e divulgado por vários meios de comunicação, como a revista Ciência Hoje.
Pois bem. O título do artigo de divulgação é intrigante: Novo DNA. Já o título do artigo é menos dramático: MicroDNAs extracromossômicos e microdeleções cromossômicas em tecidos normais.
DNA é o acido desoxirribonucléico, um polímero de nucleotídeos. Nucleotídeos são pequenas moléculas onde encontramos as bases nitrogenadas, aquelas famosas letras A (adenina), T (timina), C (citosina) e G (guanina). Uma molécula de DNA nada mais é do que duas fitas destes nucleotídeos ligados um a um como uma corrente onde estas fitas são unidas por ligações (ou pontes) de hidrogênio, exibindo-se como uma dupla hélice. Mas acredito que você já sabia disso.
Existem diferentes tipos de DNA? Bom, nunca vi isso separado em livros de biologia molecular (seja o “Genes” do Lewin, “Molecular Biology of the Gene” do Watson e colaboradores e por aí vai), exceto os DNAs do tipo A, B e Z que são estruturas secundárias destas cadeias de nucleotídeos, ou seja, como esta molécula em forma de hélice se apresenta. Também tem o DNA de alguns tipos de vírus, que pode ser fita simples e não ter a forma de dupla hélice. Outra diferença que existe é que o DNA de procariotos e das organelas citoplasmáticas (mitocôndrias e cloroplastos) é uma molécula circular, enquanto o DNA nuclear dos eucariotos basicamente é linear.
O que os pesquisadores observaram é que em tecidos normais, pequenas deleções retiram trechos do DNA do núcleo que tem informação para codificar proteínas. Estas pequenas deleções não são totalmente novidades. A novidade, de acordo com os pesquisadores, é que estes pequenos trechos que saíram da molécula de DNA do núcleo permanecem no núcleo e, por serem muito pequenas, ao se enrolarem com as proteínas histonas acabam tornando-se microDNAs circulares.
Implicações? Em primeiro lugar, o gene no cromossomo do qual foi retirado o trecho de DNA perde a função. Se a outra cópia for suficiente para não haver problemas para a célula tudo bem (genes estão sempre em duplas, um em cada cromossomo homólogo – aqueles que são recebidos um do pai e um da mãe na reprodução). Estes microDNAs permanecem no núcleo mas não deverão, a curto prazo, fazer alguma diferença para a célula. É claro que dependendo o gene que for retirado os problemas podem ser graves, levando até mesmo a formação de tumores.
Mas e aí, é um novo tipo de DNA? Sinceramente, não é. A descoberta é interessante, tem sérias implicações, mas não é essa novidade toda. E para piorar, na notícia da Ciência Hoje está escrito em letras negritadas: “O material genético descoberto é circular e não faz parte do nosso genoma”. Que tremendo absurdo! Este material genético foi retirado de um cromossomo. É óbvio que faz parte do genoma!
e quanto a descoberta que não encontro o artigo de DNAs com pontes de arsênio?
lembro de ter lido isso …pontes de arsênio no lugar de Hidrogênio… a única coisa em português reproduzida foi algo incompleto aqui: http://oglobo.globo.com/mundo/bacteria-que-come-arsenico-altera-definicao-da-vida-2915874
http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2012-07-09/estudos-refutam-forma-de-vida-em-arsenio-anunciada-em-2010-pela-nasa.html eu mesmo respondo, mas queria saber sua opinião…
Olá Yuri, desculpe ter demorado na resposta. As últimas semanas foram conturbadas.
Bom, na realidade, inicialmente pensaram que o Arsênio poderia ter substituído o fósforo. Pelo visto, a hipótese não foi confirmada. Seria algo extremamente interessante. Eu ameacei escrever sobre a primeira descoberta há algum tempo, mas acabei desistindo. Ainda bem.